Tudo é música

Danis
2 min readJul 13, 2021

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Maria Bethânia já falou sobre as rugas e cabelos brancos que ela tem, “são meus, eu mereci”, disse ela com o orgulho de quem entendeu que só envelhece quem vive.

O tempo não parou, e como disse Cazuza, o tempo não pára. Um dia após o outro e ainda estou aqui, você ainda está aí.
Talvez com noites em claro, almoços esquecidos, louças acumuladas, roupas amassadas. Você é dono do seu próprio caos.

Juntei livros e CDs, coloquei tudo numa sacola e doei. Torci pra que alguém os recebesse como recebi. Liberei espaço pra deixar a vida entrar. São rituais, eu acho. Meus rituais. Sempre renovo, sempre solto, eu me liberto.

E assim se foram os livros, os CDs, e chegaram mais livros, e no lugar dos CDs, chegaram discos que eu toco na vitrola. Aquele leve chiado tão charmoso que sai dela, e que até pode ser defeito, mas é o que me faz pensar que apesar do tempo ser tão senhor de si, alguma coisa sempre resiste, algo bonito, essa nostalgia, essa saudade.

Achei fios brancos entre meus cabelos, são os primeiros de outros que virão. Diante do espelho imagino quantas vezes me soltei e me libertei, qual parte de mim não existe mais? Eu sei. Com certeza eu sei. Há sempre uma pista da própria história na alma de cada pessoa.

O que pode ser diferente? Vou descobrir com algum oráculo? Ah, que bobagem.

Que bobagem, meu Deus. Enquanto o tempo me envolve como um réptil faminto e paciente, me preocupo com o que pode ser. O que pode ser?

A vida é um susto. É um voo de borboleta, é tudo que não foi planejado. E eu penso no que Bethânia disse… Penso agora porque me falta sono, e desejo do fundo da alma um dia me olhar no espelho e abrir um sorriso bonito, um desses alegres de coração, e dizer ao constatar todos os meus erros e acertos, minhas marcas e meus cabelos brancos, que eu mereci, são todos meus!

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Danis

Tenho escrito umas coisas e vivido outras, de vez em quando é o contrário.